A Próstata
Anorgasmia
masculina: quando o prazer é um desafio
Artigo da responsabilidade do Dr. Fernando
Mesquita.
Psicólogo Clínico. Sexólogo
A ideia que a sexualidade é fundamental na vida
humana e que o orgasmo é considerado o ápice do prazer sexual, tornou-se, de
certa forma, consensual. Porém, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a
dificuldade em atingir o orgasmo não é um problema que afeta apenas as mulheres.
A incapacidade persistente ou recorrente do homem ter orgasmo é uma realidade
pouco conhecida, embora afete uma percentagem significativa da população
masculina.
EJACULAÇÃO E ORGASMO SÃO FENÓMENOS DISTINTOS
Não estou a falar da incapacidade do homem em
ejacular, mas sim de ter orgasmo! Ou seja, embora muitas pessoas acreditem que o
facto de um homem ejacular significa que teve orgasmo (ou se não ejaculou não
teve orgasmo), isso não corresponde à realidade. Ejaculação e orgasmo são dois
fenómenos distintos, embora tendencialmente ocorram em simultâneo.
Por outras palavras, ejaculação é um processo
físico que envolve a contração dos músculos ejaculatórios e a libertação de
sémen pela uretra, enquanto orgasmo é uma resposta neurológica que envolve a
libertação de neurotransmissores responsáveis por provocar uma intensa sensação
de prazer, a qual ocorre com a libertação da tensão sexual. Portanto, é possível
um homem ejacular sem orgasmo, assim como experimentar orgasmo sem ejacular.
ORGASMO SEM EJACULAÇÃO
Se tiver uma relação sexual com um homem que não
ejaculou, mas lhe diz que teve orgasmo, é muito provável que sofra de
anejaculação. Esta disfunção sexual é caracterizada pela incapacidade
persistente ou recorrente de ejacular, mesmo que ocorra orgasmo. Nestas
situações, o prazer e a sensação de orgasmo estão presentes, mas não existe
emissão de esperma.
Em muitos casos, esta condição não é motivo de
grande preocupação para a generalidade dos homens, visto que o seu maior medo é,
precisamente, que aconteça o oposto, ou seja, ejacular mais rapidamente que o
desejado. No entanto, torna-se um problema quando existe o desejo de
parentalidade ou perante a insistência de um parceiro.
COMPREENDER A ANORGASMIA
Já a incapacidade de ter orgasmo, também conhecida
como anorgasmia, é uma condição onde existe dificuldade persistente ou
recorrente em atingir o orgasmo, podendo ocorrer com a presença ou ausência de
ejaculação. Além disso, não devemos confundir anorgasmia com disfunção erétil,
visto que homens com aquela disfunção sexual podem apresentar ereções normais e
uma excitação sexual adequada.
Compreender o que pode impedir ou dificultar a
capacidade do homem atingir o orgasmo e/ou ejacular é essencial para tratar
estas disfunções sexuais. E não há uma única resposta, visto que existem fatores
psicológicos, orgânicos, iatrogénicos, relacionais e/ou mistos.
DIVERSOS FATORES
Relativamente aos fatores psicológicos, destaca-se
a ansiedade de desempenho, traumas do passado, acontecimentos de vida recentes
ou stress. Quanto aos principais fatores orgânicos, surgem as cirurgias (tais
como a prostectomia) e outras condições médicas, como a diabetes mellitus,
doenças neurológicas ou alterações hormonais. Os efeitos secundários de alguma
medicação (tais como alguns antidepressivos) são apresentados como os principais
fatores iatrogénicos. Finalmente, mas não menos importantes, são os fatores
associados à qualidade das relações amorosas, tais como a falta de intimidade
emocional ou conflitos não resolvidos.
Fica assim evidente que a anorgasmia e a
anejaculação podem ter causas multifatoriais e, como tal, o seu tratamento deve
ser ajustado. Nestes casos, a intervenção de vários profissionais de saúde com
especialização em sexualidade humana é fundamental. A terapia sexual ou de casal
pode ajudar a identificar os fatores predisponentes, precipitantes e de
manutenção. No decorrer do processo terapêutico, procura-se que o homem (ou o
casal, caso exista) aprenda a explorar novas formas de prazer, através de
exercícios de psicoeducação, que visam aumentar a consciência sensorial e
diminuir a ansiedade.
É IMPORTANTE QUEBRAR O TABU
É fundamental entender que estas disfunções
sexuais são mais frequentes do que se pensa e que podem afetar homens de todas
as idades. Infelizmente, na nossa sociedade, ainda existe muito preconceito
relativamente às dificuldades sexuais, principalmente quando estão ligados a
causas psicológicas, levando a que muitos homens se sintam constrangidos ou
envergonhados em procurar ajuda, e acabem por sofrer isoladamente.
É evidente que as repercussões destas situações
não afetam apenas o próprio indivíduo. Em muitos casos, são também fonte de
sofrimento para a(o) parceira(o), que acaba direta ou indiretamente por ser
afetada. Muitas vezes, são os parceiros que motivam e impulsionam o homem a
procurar ajuda para estas disfunções sexuais.
No fundo, não devemos esquecer que sexualidade
humana é um aspeto natural e saudável da vida e, como tal, é importante
ultrapassar a culpa ou vergonha, perante qualquer tipo de dificuldade e quebrar
o tabu de procurar ajuda especializada.
Revista Saúde e Bem Estar
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