Carlos Baptista
Pensei seriamente se devia
ou não registar a minha raiva, desespero e não sei que mais, sobre o que
me aconteceu, e resolvi contar de forma resumida, esta minha amarga
experiência, talvez sirva de aviso a outros que pensando como eu, se
esqueceram que o tempo passa e não perdoa descuidos, pois que não volta
atrás.
Aos 50 anos, realizei todos
os testes necessários, a verificar a consistência da minha próstata,
todos deram negativos; fui avisado de que os deveria, senão todos pelo
menos alguns, repetir anualmente.
Foi precisamente dessa parte
que me esqueci, todos os anos tenho de realizar um exame para a medicina
no trabalho, que nada acusava, minha esposa como técnica em análises
clínicas, também anualmente e às vezes mais que uma vez por ano, me
realizava testes ao sangue que nada acusavam, a não ser às vezes, o
colesterol um pouco alto, o qual corrigia no imediato.
Assim se passaram 10 anos,
até que nos exames de medicina no trabalho, me foi detetado o colesterol
um pouco mais alto, o que não era de admirar pois tinha regressado de
férias nessa semana. Passado pouco tempo, e para verificar se já estava
corrigido, a minha esposa realizou novos testes, e a boa notícia foi de
que, o colesterol já estava normal, mas porque tinha feito o PSA em umas
análises anteriores, também fez as minhas, e eis que soou o alarme, PSA
7,5.
No imediato (15 dias)
consulta, toque retal, presença de um nódulo, biopsia, TAC, oito dias
passaram e confirma-se o pior prognóstico, Gleason 4+3, TAC negativo,
faltava a cintigrafia.
Segunda consulta no mesmo
médico, proposta imediata, ainda sem os resultados do TAC, cirurgia no
imediato, (em 3 dias por motivo de férias), a doença podia-se
descontrolar, mas como lhe disse que precisava de pensar um pouco antes
de decidir, então já podia interromper as férias, e ou adia-las, mas
mantive a minha postura, que iria pensar e depois lhe comunicaria a
decisão.
Segunda opinião, pois só
existem dois especialistas, na minha cidade, e vem aos sábados de 15 em
15 dias.
Toque retal, resultados dos testes realizados, já com o TAC negativo,
depois de mal falar do colega, e da sua pressa em realizar a cirurgia
mesmo sem resultados do TAC, fez a mesma proposta, cirurgia já, porque
ia de férias, mas depois de ouvir a minha resposta, que ia pensar, já as
podia interromper, mas teriam que ser nessa semana, ainda me telefonou
duas vezes, mas mantive a decisão tomada.
Em seguida consegui uma
consulta para o centro hospitalar de Vila Real, mas extra oficial, o
médico que simpaticamente a pedido de uma pessoa conhecida me atendeu,
disse-me que era a favor do tratamento de radioterapia no meu caso, uma
postura diferente dos outros que me agradou, mas como iria entrar de
férias só dali por um mês me poderia realizar uma consulta completa, com
toque retal, para decidir sobre o tratamento a seguir.
Fiquei completamente
arrasado com o que ouvi, depois de os dois primeiros especialistas,
insistirem em cirurgia já, estava desesperado para começar qualquer
tratamento, e dizerem-me daí por um mês, até talvez tivesse razão, e
esse período de tempo não tivesse qualquer influência na minha doença,
mas psicologicamente tinha e muita.
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Não satisfeito, consegui uma
consulta para o IPO de Coimbra, onde um especialista, não comerciante
como os dois primeiros, e muito mais humano que o terceiro, depois me
ouvir, realizar o toque retal, e ver os resultados do TAC, logo ali me
explicou que como o tumor tinha um volume significativo devíamos iniciar
um tratamento de hormonal, com o qual se pretendia diminuir o volume do
tumor, o que iria facilitar qualquer que fosse o tratamento por que se
optasse a seguir.
O tratamento iria durar
aproximadamente 7 meses, durante os quais iria sofrer uma castração
química, logo ali consultei a mina esposa que sempre me acompanhou, e
decidimos que iria iniciar o tratamento, no imediato foi marcada a
cintigrafia óssea para o dia seguinte e marcada nova consulta para
passados 4 dias, onde me seria aplicada uma injeção de LEUPRORRELINA
45mg, que juntamente com os comprimidos de ANDROCUR 100mg completava o
tratamento a seguir durante os 7 meses.
Aguardei, com muito receio,
e não sei que mais sensações, a entrega dos resultados da cintigrafia,
que de imediato pretendi abrir, mas como sou devoto de Fátima, decidi
deslocar-me até lá e só abrir durante a missa a decorrer na capelinha
dos milagres, com muito medo e angustia, lá tive coragem e vi o
resultado, negativo, senti um alivio imenso, estava confinado à próstata,
com ou sem a ajuda da SENHORA, dentro da gravidade senti-me imensamente
feliz.
Na continuação do
tratamento, vou ter uma consulta no dia 03-10-2013, para ver a evolução
do tumor, já tenho uma outra marcada para 31-01-2014, então penso que
será para determinar qual o tratamento a seguir.
Moral da história:
A existir algum culpado, sou
eu, vítima do meu desleixo, sempre coloquei os meus outros objetivos em
primeiro lugar, e releguei para segundo ou terceiro plano a minha saúde,
esquecendo as recomendações que me foram feitas.
Também é verdade que a minha
esposa poderia ter realizado os testes de PSA com mais regularidade, que
os exames obrigatórios a realizar anualmente (para pessoas com mais de
50 anos), para cumprir as regras da medicina no trabalho deveriam de
indicar obrigatoriamente, o PSA. Talvez que essa regra se, introduzida
no sistema, possa detetar precocemente situações como a minha ou ainda
piores, e dessa forma se conseguisse economizar, em termos de despesa
com tratamentos no SNS. Mas se não fosse esse o caso, de certeza que o
sofrimento humano seria diminuído, e só por isso penso que o esforço
seria compensatório, mas compete aos políticos determinar essas
alterações, também penso que a Associação deveria de ter uma palavra
muito importante, junto da classe médica em geral, e dos políticos em
particular, em alertar que uma pequena alteração nas regras da medicina
no trabalho, poderia contribuir em muito para a deteção precoce do
cancro da próstata, e outras doenças associadas.
Atenciosamente
Carlos Baptista
Chaves, 24-09-2013
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