Assombros masculinos
Os homens têm uma certa
sensação de invulnerabilidade - isso faz parte da sua maneira de pensar.
Passam boa parte da sua vida livres dos incômodos que a mulher tem com a
menstruação e gravidez, fazendo com que relaxem mais com a sua saúde.
Com o passar dos anos, começam a perceber a sua vulnerabilidade e passam
a dar um pouco mais de valor aos cuidados com a sua saúde.
O que mais os atemoriza hoje
em dia quando a idade vai avançada? Problemas com a próstata, disfunções
sexuais e a decadência física, que mexe muito com a cabeça das mulheres,
mas também com a deles. As mulheres pautam muito a vida em função da
beleza e os homens, da força, da virilidade, da capacidade de
raciocinar, de decidir e agir.
E na hora em que surgem
falhas nessas áreas, eles percebem que, talvez, não sejam aqueles seres
imortais que achavam que fossem.
Envelhecimento
Há dois profundos temores
hoje nos homens: o primeiro é o crescimento benigno da próstata, um
fenômeno que ocorre em praticamente todos eles: a próstata aumenta
sempre de tamanho depois dos 40 anos e, dessa forma, o canal da uretra
vai ficando obstruído.
Isso faz com que o homem comece a urinar mais frequentemente, tendo
menos controle da sua função urinária, e por isso a ter de evitar
reuniões prolongadas, a ter de se levantar durante a noite para urinar,
prejudicando o sono e acordando muitas vezes mal disposto.
O crescimento benigno é quase inexorável: todos os homens vão ter em
maior ou menor grau - felizmente, apenas um em cada três têm sintomas
mais significativos que exigem apoio médico.
Nesses casos, há medicações que desobstruem parcialmente a uretra e
fazem o indivíduo urinar e viver melhor; apenas 4 a 5% dos homens têm de
fazer uma cirurgia para desobstruir a uretra por causa desse crescimento
benigno.
Essa é uma cirurgia que se faz hoje em dia com segurança e sem os
inconvenientes de uma cirurgia maior mais comum nos casos de cancro. Ela
remove apenas o fator obstrutivo, o homem passa a viver melhor e sem
nenhuma sequela. Esse crescimento não tem causa conhecida, surge por um
desequilíbrio hormonal no homem maduro, ou seja, as células da próstata
passam a se proliferar em decorrência dos hormônios. Não há forma de
este crescimento da próstata ser evitado.
Realidade nua e crua
O cancro na próstata adquire
maior relevância porque tem uma grande prevalência: 18% dos homens - um
em cada seis - manifestarão a doença. E também porque o tumor, que
ocorre com muita frequência dentro da próstata, é eliminado com sucesso
em 80 a 90% dos homens. Se esse tumor não é identificado no momento
certo e se expande, saindo para fora da próstata, as possibilidades de
cura caem para 30%.
É um tumor muito comum e se
for detectado a tempo, tem como ser curado.
Dos 18% acima referidos,
somente 3% morrem desse problema - a medicina consegue curar 15% dos
homens, ou seja, a maioria. Mas vale dizer que todo homem nasce
programado para ter cancro de próstata. Ou seja, nós temos, nas nossas
células, genes que as estimulam a tornar-se cancerosas e esses genes
ficam bloqueados durante a maior parte da nossa existência. Quando o
indivíduo envelhece, esses mecanismos de bloqueio deixam de exercer o
seu papel e o cancro começa a manifestar-se. Com isso vai aumentando a
frequência da doença e todo homem que chegar aos 100 anos vai ter cancro
de próstata.
Sem fantasia
O exame de toque retal - um
dos meios de se detectar a doença - gera na cabeça dos homens fantasias
negativas e receios, mas, na verdade, eles o que têm mesmo é muito medo
da dor. Tanto é assim que os homens que fazem o toque retal pela
primeira vez, no ano seguinte perdem o medo. Leva três ou quatro
segundos e não dói. Então, um dos fatores de resistência é eliminado.
Existe um segundo sentimento, que é muito forte: expressar ou
exteriorizar uma fraqueza se a doença da próstata for descoberta.
O homem tem pavor disso
porque, de acordo com todas as ideias evolucionistas, só vão sobreviver
aqueles que forem fortes. É comum descobrir-se um cancro no indivíduo, e
ele entrar em pânico, não pela doença, mas porque as pessoas vão ficar a
saber. Porque o cancro é muito relacionado com morte, decadência física,
perda da independência e por isso dependência dos outros. O homem não
aceita facilmente essa ideia, e prefere fechar os olhos e “enfiar a
cabeça na areia” a ter de enfrentar as pessoas que vão ficar a saber ser
ele um ser mais fraco. Isso vai afetar a imagem dele, acha que vai
perder poder sobre outras pessoas, porque ninguém obedece a um fraco,
alguém que vai morrer. Isso vai contra a ideia que nós homens temos de
ser mais fortes para sobreviver.
A performance do robô
Estamos já há algum tempo
fazendo cirurgias com robô, que permitem uma visão muito mais precisa do
campo cirúrgico, eliminando os tremores da mão do cirurgião, permite
incisões pequenas, uma operação muito mais perfeita porque os movimentos
do robot são muito suaves. Nos Estados Unidos já se faz cirurgia
robótica em larga escala.
Tenho mais de 2.900
pacientes operados de cancro de próstata pessoalmente. Eu sou o terceiro
cirurgião do mundo nesse quesito - só perco para dois americanos e eles
estão próximos de se reformar. Apesar de ter essa grande experiência,
quando comecei a operar, 35% ficavam com incontinência urinária grave.
Agora são só 3%. Impotentes, todos também ficavam. Hoje, se o homem tem
menos de 55 anos, a incidência é de 20% - antes era 100%.
Há também enxertos de
nervos, porque a impotência se deve à remoção de dois nervos que passam
perto da próstata e nós estamos fazendo esse enxerto quando somos
obrigados a retirá-los nos casos em que a localização do tumor a isso
obriga. Entre os doentes que fizeram os enxertos, metade voltou a ter
ereções com o tempo.
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Impotência, o que fazer?
Os novos remédios para
tratar a disfunção sexual resolvem 1/3 da impotência, tanto após a
cirurgia quanto depois da radioterapia. Se os comprimidos não atuarem,
existem injeções.
Existem ainda próteses
penianas que são muito desenvolvidas e produzem uma ereção que quase não
tem nenhuma diferença física em relação à normal.
Isso permite que o homem
reassuma a vida sexual plenamente e que as mulheres tenham muita
satisfação.
O papel das mulheres
Os homens são resistentes:
eles relutam muito em ir ao médico fazer um exame de próstata e só vão
quando a mulher os empurra: dois terços dos pacientes no consultório de
Miguel Srougi são trazidos por elas.
"Ligam para marcar a consulta e acompanham o homem. Mas existe um outro
significado da importância da mulher. Primeiro, que ela é pragmática e
incentiva o marido. Mas, por que ela quer isso?. Porque a mulher que
viveu bem com o seu marido durante mais de 30 anos e conseguiu superar
todos os embates da vida conjugal, representa um casal que o tempo
consolidou. E aí a mulher tem um sentido de preservação da família muito
mais forte que o do homem. Passadas as tempestades e oscilações do
relacionamento, ela não quer que o marido morra. É real. Toda vez que
tenho um doente ofereço dois tratamentos: um que aumente a existência
dele, mas vai, por exemplo, causar alguma deficiência na área sexual.
E um outro, que cura menos,
mas preserva melhor a parte sexual. O homem balança na decisão. A mulher
nunca hesita. Ela prefere aquele que aumenta a existência, mesmo
correndo o risco de comprometer a vida sexual dele e do casal. Poucas
vezes vi uma mulher aconselhar um tratamento que dê menos tempo de vida
ao seu marido ou companheiro e aumente a possibilidade de ele continuar
potente. Dá para contar nos dedos. Ela quer o companheiro, quer
preservar aquela pirâmide que foi construída, que é rica."
Sofrimentos e privilégios
Eu me envolvo muito com meus
pacientes. Sofro muito. E esse sofrimento é um dos fatores do sucesso da
minha carreira, de 35 anos. Nesse sofrimento eu acabo entregando-me mais
e mais aos doentes. Isso é mau, porque não tenho vida pessoal, minha
vida familiar é feita nos intervalos. Felizmente, os momentos bons
prevalecem sobre os ruins. É por isso que eu sobrevivo. Um doente que
coloca a cabeça no meu ombro e me agradece por ter feito algo por ele,
ou deixa correr uma lágrima na minha frente, me faz ultrapassar aqueles
momentos em que me senti totalmente impotente.
Uma das coisas importantes é o médico saber e demonstrar que a medicina
não é infalível e ele não se sentir omnipotente. O urologista tem um
privilégio. O oncologista mexe com cancro avançado, já no fim do caminho
- eu lido com o inicial. Eu consigo salvar muita gente. É um privilégio
para mim.
Medo da separação
Nós não queremos morrer.
Primeiro, pela incerteza do que vem depois. Segundo, porque a morte
implica extinção e o ser humano não aceita a aniquilação. A nossa cabeça
nasceu para ser imortal. A morte está relacionada com dor, sofrimento,
decadência física, a desfiguração, a perda do papel social, desamparo da
família, perdas dos prazeres materiais, da independência. Mas a causa
verdadeira é o nosso horror de nos separar das pessoas que amamos.
Os hospitais
Os verdadeiros templos na
Terra são os hospitais - não as igrejas. Nas igrejas tem muito ouro,
riqueza. Aqui não, você conhece o sofrimento, o valor da existência
humana. Os orgulhosos e os soberbos ficam humildes, ricos e pobres são
iguais; os maus, os autoritários e os maldosos se tornam
condescendentes: eles ficam despidos, tiram a máscara; é aqui que você
conhece o que é viver, que resgata para a vida, não em uma igreja
qualquer, que o sujeito entra lá, reza dez minutos e sai. Mas aqui nós
curamos a alma e o corpo. Esse é o verdadeiro templo, onde o ouro é a
vida.
Um pouco de filosofia
A melhor forma de se
transmitir as virtudes é pelo exemplo, pela coerência.
Certa vez perguntaram ao
filósofo Sócrates como a virtude poderia ser transmitida - se pelas
palavras ou se conquistada pela prática. Ele não soube responder. Então,
Aristóteles, depois de uns anos, respondeu: "A virtude só pode ser
transmitida pela prática e por meio do exemplo". Aqui, eu posso tentar
ser o exemplo. Mudando o quotidiano das pessoas, transformando a
sociedade e construindo um novo mundo.
Medidas preventivas
Segundo Miguel Srougi, a
prevenção ao cancro de próstata é feita de forma um pouco precária,
porque não existem soluções para impedi-lo.
Na prática, há o Licopeno,
que é o pigmento que dá cor ao tomate, à melancia e à goiaba vermelha.
"Talvez diminua em 30% a possibilidade de contrair o cancro da próstata,
mas esse dado é controvertido, por causa disso a gente incentiva os
homens a comerem muito tomate, só que deve ser ingerido sobretudo
pós-fervura, ou seja, precisa ser transformado em molho de tomate”.
A vitamina E também reduz
teoricamente os riscos em 30 a 40%. Mas, se for ingerida em grandes
quantidades, produz problemas cardiovasculares. Na verdade, se o homem
quiser se proteger, deve tomar uma cápsula de vitamina E por dia. Acima
disso, não é recomendável.
O terceiro elemento é o
Selênio, um mineral que existe na natureza e é importante para manter a
estabilidade das células, impedindo que elas se degenerem, que é
encontrado em grande quantidade na castanha-do-Pará. "Qualquer homem
pode ingerir em cápsulas, mas se ele comer duas castanhas (do Pará) por
dia, recebe uma certa proteção", diz o especialista.
Uma quarta medida é comer
peixe, se possível três vezes por semana - rico em omega 3 e tem uma
ação anticancerígena.
Dr.
Miguel Srougi
Professor Titular de Urologia
Faculdade de Medicina da USP – FMUSP, São Paulo, Brasil
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